Entre safra ou renovação?
Nesta semana duas
bombas atingiram o noticiário futebolístico. Foram as demissões de Ricardo
Gomes do São Paulo e Marcelo Oliveira do Atlético Mineiro – este último em
plena disputa da final da Copa do Brasil. Ambos são treinadores consagrados que
foram demitidos faltando apenas 10 dias para o fim da temporada. Isso mostra
mais uma vez o quanto continua amadora a direção dos clubes brasileiros que
tomam decisões intempestivas quase sempre baseadas no imediatismo a despeito de
qualquer planejamento existente. Consequência disso, ano após ano, assistimos
os times que tiveram um mínimo de planejamento disputando títulos enquanto os demais
se desesperam na parte inferior da tabela. Nos chama a atenção também o abismo
entre a grandeza dos clubes e a pequenez da maioria dos seus dirigentes.
Mas se a direção política continua na mesma não
podemos dizer que continua igual à situação dos treinadores. A demissão de dois
veteranos para chegada de duas promessas não são obra do acaso e é isso que
quero destacar.
Observando os dois
últimos campeonatos brasileiros constatamos uma geração de treinadores vencedores
serem demitidos e encontrando dificuldade para conseguir um novo emprego como
Falcão, Celso Roth, Luxemburgo, Leão, Abel e Parreira, entre outros, que
representaram muito ao nosso futebol, quando este dominou o planeta, mas que
sobe o comando de Scolari (outro expoente dessa geração) culminou no vergonhoso
7 a 1, pois não conseguiram acompanhar as mudanças táticas e técnicas iniciadas
pelo Barcelona da década passada.
Enquanto isso, uma
nova geração de treinadores com perfil bem distinto dos surgiu capitaneada por Zé
Ricardo, Jair Ventura, Roger e Eduardo Batista.
Essa bossa nova de
treinadores, assim como os torcedores, fincam os pés no futebol nacional, mas tem
a cabeça voltada para os grandes clubes da Europa, atual centro hegemônico do
futebol. Hegemonia fruto do reinventado futebol canarinho de 82, como o próprio
Pepe Guardiola admite.
O clássico 4-4-2
com o ‘coração na ponta da chuteira’ baseado na qualidade individual de um país
que sempre revela novos craques vai gradativamente sendo substituído pelos conceitos
de compactação, falso 9, triangulações, transição rápida, jogadores de múltipla
função e troca constante de posição que compõem o vocabulário desta nova
geração muito mais antenada nas tecnologias e no ritmo alucinado do futebol
moderno.
Essa transição
está muito bem sedimentada em dois treinadores que conseguem unir bem essas
duas gerações: Tite e Cuca. Não é à toa que estamos falando do atual campeão
brasileiro e do provável futuro campeão brasileiro. Ambos possuem um sistema de
treinamento moderno, que acompanha o que ocorre nos principais clubes da Europa,
somando a experiência de terem trabalhado junto e enfrentado esses grandes
treinadores vencedores, que tratei no começo da matéria.
Sem os grandes
craques que são vendidos cada vez mais novos para outros países é fundamental que
o treinador brasileiro moderno saiba unir as qualidades físicas, técnicas e
culturais do jogador brasileiro com os novos métodos de treinamento repensadas
reconstruídas na Europa pelos treinadores dos grandes clubes - que
evidentemente possuem recursos materiais e humanos muito maiores para isso.
Ainda não podemos
prever qual o futuro dessa nova safra, mas alguns trabalhos têm mostrado que essa
união é possível, é só lembrar o que Rogério Micale fez na seleção Olímpica e
Tite fez no Corinthians e faz na principal. Ali foi plantada uma semente do que
pode ser um futuro promissor do futebol brasileiro.
Comentários
Postar um comentário